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Entrevista

Ex-Rappi cria software automotivo com IA inspirado em Senna e quer ser 'empresa que define categoria'

Pitz permite que oficinas sejam mais eficientes, profissionais e lucrativas, diz CEO Natalia Salcedo.

09 de dezembro de 2025 por LIDE

Natalia-Salcedo-1--1-Natalia Salcedo, CEO da Pitz. (Foto: Divulgação)

A plataforma de software automotivo Pitz foi lançada no Brasil em outubro com grandes metas de replicar e acelerar o sucesso imediato e a curva de crescimento vista no México. A ferramenta inovadora e baseada em IA é liderada pela empreendedora colombiana Natalia Salcedo, que integrou o time inicial da Rappi, uma das startups que cresceram mais rápido na América Latina.

Depois, Salcedo co-fundou a Jokr/Daki, que atingiu status de unicórnio ao reinventar entregas de supermercados. Como fundadora da Meru, ela criou um marketplace B2B de autopeças na América Latina que chegou ao break-even e movimentou milhões em transações. Agora, ela conversa com o LIDE sobre sua nova empreitada, a Pitz, e como a plataforma permite que oficinas sejam mais eficientes, profissionais e lucrativas, e sobre a crescente presença da empresa na América Latina.

Que valor único a Pitz traz para a indústria de reparos automotivos? E por que priorizar ferramentas de IA para mecânicos?

A Pitz está criando a camada de IA para o ecossistema de reparos automotivos, um setor que ainda opera com longos tempos de espera, tarefas manuais e informações fragmentadas. Nossa plataforma transforma o celular e a voz do mecânico em um sistema operacional poderoso: ela gera orçamentos, gerencia agendamentos, registra o histórico dos clientes, checa o estoque e cria ordens de serviço e faturamentos de forma automática. Na prática, um único mecânico pode operar sua oficina com a eficiência de uma equipe corporativa completa. A IA permite decisões mais rápidas, maior retenção de clientes e um serviço no nível de concessionária, sem precisar dos recursos de uma concessionária.

Quais resultados iniciais a Pitz observou no México desde o seu lançamento?

O México validou a demanda imediatamente. Nas duas primeiras semanas, cadastramos 100 oficinas pagantes e alcançamos cerca de US$25 mil em receita mensal recorrente. Os mecânicos abrem o app em média 3,7 vezes por dia, e não tivemos nenhum churn desde o lançamento, um raro sinal inicial de forte product-market fit. Nosso co-piloto de IA economiza cerca de 500 horas de trabalho manual por mês, e nosso marketplace já oferece 1,2 milhão de SKUs com dados de compatibilidade aprofundados. Isso tem se traduzido em até 30% de aumento de receita para as oficinas, graças a orçamentos mais rápidos, menos tempo ocioso e maior conversão de clientes.

Ao iniciar operação no Brasil, quais são as prioridades e planos de crescimento da Pitz para este mercado?

Lançamos nacionalmente em outubro com o objetivo de replicar e acelerar nossa curva de crescimento vista no México, adaptando-nos às dinâmicas únicas do mercado brasileiro. Nosso foco engloba oficinas independentes, mecânicos profissionais, frotas corporativas e concessionárias. Esperamos ultrapassar 1.000 oficinas ativas em 2026. O Brasil também será o primeiro país a receber nossa suíte de gestão de frotas, abastecimento, agendamento de manutenções e rastreamento em tempo real. A oportunidade é enorme: nossas pesquisas mostram que 85% das oficinas brasileiras ainda operam com papel e caneta. Digitalizar esse setor não é apenas uma oportunidade de negócio, é uma inevitabilidade.

O Brasil é considerado parte do DNA da Pitz, com Ayrton Senna citado como inspiração. Como essa conexão surgiu?

O Ayrton Senna entrou na minha vida em um momento em que eu estava me reconstruindo. Eu tinha acabado de fechar uma empresa e vivia aquela pergunta silenciosa e dolorosa: “E agora?”. Uma noite, assistindo ao documentário ‘Senna’, algo dentro de mim se alinhou novamente. O que me tocou não foram os troféus, mas a humanidade dele. A forma como ele ouvia um carro como se ele lhe dissesse algo. O respeito pelos mecânicos ao seu lado. Sua recusa total em operar em qualquer lugar entre “quase” e “excelência”. Há um momento no filme em que o batimento cardíaco dele parece sincronizado com o motor. E eu percebi que a verdadeira transformação, nas pistas e na vida, começa exatamente ali: na oficina, nos detalhes, nas mãos das pessoas que raramente recebem os holofotes, mas que mantêm indústrias inteiras funcionando. Essa emoção ficou comigo. Tornou-se parte do DNA da Pitz: dignidade pelo ofício, obsessão pela precisão e coragem para perseguir a excelência mesmo quando ninguém está olhando. Senna me lembrou que a inovação começa onde ninguém está prestando atenção. E foi exatamente aí que a Pitz nasceu.

Qual é a missão ou a visão de longo prazo por trás da Pitz como empresa?

A Pitz existe para valorizar e modernizar um ofício essencial, sem adicionar complexidade. Queremos que mecânicos e donos de oficinas ganhem mais, passem menos stress e ofereçam uma experiência transparente e rápida aos clientes. Na América Latina e nos EUA, mais de 20 milhões de famílias dependem do mercado de reposição automotiva. Se conseguirmos reduzir tempos de reparo, aumentar a receita das oficinas e trazer inteligência para um setor historicamente negligenciado, o impacto social e econômico é enorme.

Como a Pitz se alinha à sua missão pessoal e à sua perspectiva como investidora?

Minha missão é construir uma empresa que defina a categoria a partir da América Latina e que inspire fundadores que atuam em indústrias que o mundo ignora, mas das quais dependem todos os dias. A Pitz recentemente levantou uma rodada de US$ 2,1 milhões, com apoio de fundos globais e até pilotos de Fórmula 1 como investidores-anjo, uma validação poderosa da nossa visão. Quero mostrar que a inovação de classe mundial pode começar aqui, ser construída para problemas reais e escalar globalmente. E, para a Pitz, isso é só o começo.