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Negócios que Regeneram

'O Brasil é uma potência ambiental que insiste em perder oportunidades', afirma Roberto Klabin

Empresário e ambientalista critica a falta de coerência das políticas públicas brasileiras em plena crise climática e diz que o país precisa unir setor privado e governança eficiente para não desperdiçar seu papel estratégico na COP30.

07 de novembro de 2025 - Atualizado em 07 de novembro de 2025 às 11h51 por LIDE

SEMINARIO AMBIENTAL-300 DPI ESG-04-06-24-151Roberto Klabin acredita que o país precisa unir setor privado e governança eficiente para não desperdiçar seu papel estratégico na COP30. (Foto: Evandro Macedo/LIDE)

Para o empresário e ambientalista Roberto Klabin, o Brasil chega à COP30 em um momento de grandes contradições. De um lado, é uma das maiores potências ambientais do planeta, com vastas reservas naturais e uma matriz energética predominantemente renovável. De outro, ainda falha em transformar esse potencial em liderança concreta no enfrentamento das mudanças climáticas.

“O Brasil é uma potência ambiental, mas insiste em perder oportunidades. Nós temos a biblioteca de Alexandria da natureza, e estamos deixando queimar os seus livros sem sequer lê-los”, afirmou Klabin em entrevista à série Negócios que Regeneram.

Crítico da condução política da agenda ambiental, Klabin apontou a distância entre o discurso e a prática do país. Segundo ele, o Brasil “conta uma história bonita para o mundo, mas faz exatamente o contrário”. O ambientalista citou como exemplo a recente liberação para exploração de petróleo na Foz do Amazonas, considerada por ele um “retrocesso brutal” às vésperas da conferência climática. “Queremos ser o país da transição, mas escolhemos investir em petróleo. É um contrassenso completo com a mensagem que queremos mandar ao mundo”, disse.

Na avaliação de Klabin, o setor empresarial brasileiro está mais avançado que o poder público na compreensão das mudanças necessárias para uma economia de baixo carbono. “O mercado é pragmático, já identificou valor e oportunidades. As empresas sabem o que precisam fazer, porque atendem ao consumidor — e o consumidor está mais consciente. O problema é que o governo continua no século XX, com líderes que negam a gravidade da crise climática e tratam sustentabilidade como ideologia”, afirmou.

Ele destacou ainda o papel do setor privado na promoção de soluções baseadas na natureza, como reflorestamentos e investimentos em bioeconomia.

“O Brasil tem tudo para ser uma potência ambiental resiliente, mas falta coerência, governança e compromisso público. Enquanto o dinheiro privado tem metas e resultados, o dinheiro público carece de transparência e continuidade”, alertou.

Apesar das críticas, Klabin reconhece que a COP30 pode ser um marco importante para o país — especialmente por ocorrer em uma democracia e dar visibilidade à Amazônia e aos povos tradicionais. “Será uma COP de desafios, mas também de oportunidades. A iniciativa privada brasileira tem mostrado que sabe inovar e encontrar soluções. Cabe agora ao governo e à sociedade garantirem que o Brasil não perca, mais uma vez, a chance de ser protagonista na construção de um futuro sustentável.”