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Definição de metas

Empresas têm dificuldades para tornar negócios mais preparados para os efeitos climáticos

Estudo da EY, que analisou 857 companhias em 50 países, constatou que embora estejam avançando na definição de metas, no monitoramento da redução de emissões e na avaliação de riscos, ainda paira incerteza sobre a efetividade dessas ações.

22 de dezembro de 2025 - Atualizado em 18 de dezembro de 2025 às 17h39 por AGÊNCIA EY

pesquisadores-em-busca-de-fontes-alternativas-de-energiaEmbora empresas estejam avançando na definição de metas, no monitoramento da redução de emissões e na avaliação de riscos, ainda paira incerteza sobre a efetividade dessas ações. (Foto: Freepik)

Embora as empresas monitoradas pelo estudo Global Climate Action Barometer, produzido pela EY, estejam avançando na definição de metas, no monitoramento da redução de emissões e na avaliação de riscos, ainda paira incerteza sobre a efetividade dessas ações. O questionamento é se os esforços atuais dessas organizações, que se destacam nesse trabalho de mensuração dos efeitos e resposta às mudanças climáticas, estão sendo suficientes para impulsionar a descarbonização necessária para frear o aquecimento global, transformar seus modelos de negócios e enfrentar as ameaças físicas e de transição cada vez mais presentes. Há também, na avaliação do estudo, a necessidade de os legisladores e reguladores criarem ambiente de negócios propício para a viabilização do cumprimento das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs, na sigla em inglês) definidas pelos países.

Ricardo Assumpção, líder de sustentabilidade e CSO da EY para a América Latina, destaca a necessidade de integração entre a estratégia corporativa e a realidade climática. “As divulgações corporativas analisadas pelo estudo mostram que, embora as empresas monitoradas estejam levando a sério os impactos do clima, há dúvidas se estão efetivamente transformando seus modelos de negócio para que sejam mais resilientes a esses efeitos, o que passa por investimento em adaptação”, diz.

Ainda segundo o executivo, as companhias precisam alinhar suas estratégias, operações e governança com uma agenda de criação de valor de longo prazo. “É fundamental considerar como a empresa pode se preparar à medida que a ciência avança e os impactos da natureza sobre os modelos de negócios mudam.”

O estudo da EY debruçou-se sobre as divulgações de 857 empresas que operam em 13 setores econômicos e estão distribuídas por 50 países. Essas companhias foram selecionadas por causa da liderança em ambição climática, qualidade de divulgação e gestão de riscos na edição do estudo de 2024. Todas indicaram contar com um plano de transição ou disseram ter o compromisso de divulgá-lo.

Transição para uma economia de baixo carbono

Para preencher a lacuna entre promessa e ação, acelerando assim a transição para uma economia de baixo carbono, o estudo da EY sugere nove passos para as organizações. O primeiro deles é incorporar metas climáticas na estratégia da empresa. Isso exige o estabelecimento de metas desafiadoras, porém alcançáveis, além de alocação de capital para investimentos críticos.

O segundo é a criação e divulgação de um plano de transição que contemple governança, supervisão, metas de longo prazo alinhadas ao Acordo de Paris e identificação das alavancas de descarbonização. Ao divulgar esse plano, incluindo como será financiado, a empresa se compromete publicamente e permite ser cobrada pelos stakeholders. O terceiro passo envolve considerar diferentes cenários, avaliando riscos, oportunidades e consequências financeiras para cada um deles e explicando como mitigar os riscos de cada situação.

Um ponto de atenção no estudo é o uso de créditos de carbono. A quarta recomendação é reduzir a dependência desses créditos e fazer uso efetivo da precificação interna de carbono (ICP, na sigla em inglês). O relatório é enfático: créditos devem ser usados em conjunto com estratégias de redução, não como alternativa a elas. Se precificado de forma realista, o ICP permite que as empresas planejem um futuro no qual operar com alta pegada de carbono não será mais financeiramente viável.

Isso leva à quinta ação: realizar uma avaliação quantitativa de risco climático. Leonardo Dutra, sócio-líder de mudanças climáticas e sustentabilidade da EY Brasil, ressalta a importância de traduzir riscos ambientais em números financeiros. “Uma avaliação quantitativa de risco climático pode ajudar a empresa a entender como provavelmente será impactada pelas mudanças climáticas e identificar as estratégias proativas de adaptação e mitigação que precisam ser implementadas”, explica Dutra. "Essa avaliação pode ser usada para estimar tanto o custo da ação quanto o da inação climática. Ela também permite à empresa quantificar o impacto financeiro de todos os riscos materiais identificados no negócio”, finaliza.

Governança, cadeia de valor e tecnologia

As recomendações finais do estudo focam na estrutura organizacional e na tecnologia. A sexta ação exige o estabelecimento de processos robustos de governança. Isso implica níveis apropriados de supervisão do conselho sobre a definição de metas e o progresso realizado. O levantamento sugere a possibilidade de contratar um conselheiro adicional com especialização climática.

A sétima ação aborda a remuneração e a cultura corporativa: vincular incentivos à criação de valor de longo prazo, e não apenas a objetivos financeiros de curto prazo. Isso exige pensar holisticamente sobre como a empresa cria valor hoje e como criará no futuro, considerando os desafios econômicos e ambientais.

Em oitavo lugar, as empresas devem engajar sua cadeia de valor. Na qualidade de clientes, as organizações podem impulsionar mudanças solicitando que seus fornecedores estabeleçam metas de carbono zero e desenvolvam planos de transição, criando um efeito cascata em toda a cadeia de suprimentos.

Por fim, a nona ação recomendada pelo estudo aponta para o uso de ferramentas de inteligência artificial, já que essa tecnologia pode auxiliar na transição para uma economia de baixo carbono. O relatório apresenta, no entanto, a dicotomia própria da IA: ela consome muita energia elétrica, o que pode aumentar emissões de carbono se a matriz energética vier de combustíveis fósseis, mas também oferece oportunidades de otimização de fontes renováveis, modelagem de cenários climáticos futuros e planejamento de rotas de transporte de baixa emissão.