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Mudanças climáticas

Inação climática custa quase o dobro do investimento em mitigação e adaptação

Estudo da EY com a participação de 857 empresas aponta que não agir contra as mudanças climáticas pode custar, em média, 15% da receita anual das organizações.

24 de dezembro de 2025 - Atualizado em 18 de dezembro de 2025 às 17h38 por AGÊNCIA EY

leonardo dutra eyLeonardo Dutra, sócio-líder de Mudanças Climáticas e Sustentabilidade da EY Brasil. (Foto: Divulgação)

O custo médio da inação, o que significa não adotar medidas de mitigação e adaptação climáticas, é estimado em 15% da receita anual das empresas, de acordo com a edição deste ano do estudo Global Climate Action Barometer, produzido pela EY. A falta de ação custa praticamente o dobro do investimento realizado para enfrentar os impactos financeiros das mudanças climáticas, com as companhias planejando investir em média 8% de suas receitas, ainda segundo o levantamento. Apenas 31% das empresas analisadas avaliam o impacto financeiro conjunto do custo da ação e do custo de longo prazo da inação. Entre os setores econômicos, o imobiliário apresenta o maior custo de ação projetado, com a expectativa de alocar 96% da receita de 2024 em mitigação e adaptação, demonstrando a necessidade crítica de proteger esses ativos de incêndios, inundações e furacões.

Participaram do estudo 857 empresas provenientes de 50 países e de 13 setores econômicos, que foram selecionadas com base na liderança nessa agenda de ambição climática, qualidade de divulgação e gestão de risco climático. Os resultados dizem respeito às iniciativas das companhias identificadas no Global Climate Action Barometer de 2024, também da EY, que têm se destacado nesse trabalho.

“A COP30 mostrou que as empresas estão tomando a dianteira nos esforços contra as mudanças climáticas, mas, para que sejam bem-sucedidas, precisam fazer isso de forma ordenada, com a correta identificação dos riscos para seus negócios ou suas operações e de quanto eles significam financeiramente nos próximos anos”, diz Leonardo Dutra, sócio-líder de Mudanças Climáticas e Sustentabilidade da EY Brasil. Embora 68% das empresas analisadas pelo estudo quantifiquem os riscos físicos e de transição para seus negócios, apenas 17% divulgam o impacto financeiro de todos os riscos materiais identificados.

Há duas razões para isso: receio competitivo e horizonte temporal. A primeira reflete o temor das empresas em prejudicar sua competitividade ao revelar esses impactos nos demonstrativos financeiros. Já em relação ao horizonte temporal, há um descompasso entre os demonstrativos financeiros, que trabalham com o curto prazo como foco, e os riscos climáticos, que têm horizontes de longo prazo. Isso faz com que os cálculos sejam complexos, desestimulando a divulgação do impacto financeiro dos riscos.

Projeção dos custos de inação

Os custos de inação carregam uma diferença de entendimento. Enquanto as empresas nas Américas e na região EMEIA (sigla em inglês para Europa, Oriente Médio, Índia e África) projetam esses custos majoritariamente no longo prazo, as companhias da região APAC (sigla em inglês para Ásia-Pacífico) veem a materialização desses custos no curto prazo, o que significa que, na avaliação desses negócios, as mudanças climáticas representam uma ameaça imediata operacional e comercial.

“Ainda que haja um longo caminho para progredir, as organizações estão cada vez mais conscientes da necessidade de mensurar financeiramente os riscos. Na América Latina, por exemplo, a cobertura de divulgação TNFD (Taskforce on Nature-related Financial Disclosures) entre as empresas é de 89%, estando bem acima dos EUA e do Canadá, conforme constatamos em levantamento divulgado antes da COP30”, relembra Dutra.

Essa métrica de cobertura de divulgação contempla as organizações que divulgaram informações relacionadas à natureza que estão associadas a uma ou mais das 14 divulgações recomendadas pela TNFD, uma iniciativa global que fornece orientações para criação de relatórios sobre o impacto (riscos e oportunidades) das organizações na natureza.