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Hugo Garbe

Deflação de agosto traz alívio temporário, mas mantém desafios para política monetária e gestão

Queda recente nos preços reflete fatores pontuais; desafio é manter inflação sob controle sem travar a economia.

12 de setembro de 2025 - Atualizado em 19 de setembro de 2025 às 12h52 por Hugo Garbe, professor de Ciências Econômicas da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM). PhD em Economia.

Hugo GarbeHugo Garbe, professor de Ciências Econômicas da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM). PhD em Economia. (Foto: Divulgação)

Embora a palavra “deflação” muitas vezes seja associada a uma boa notícia, por indicar redução nos preços, é importante interpretar o fenômeno com cautela. No caso recente, a queda não foi causada por um arrefecimento generalizado da inflação, mas sim a fatores específicos e temporários. O principal deles foi o desconto extraordinário aplicado nas tarifas de energia elétrica, impulsionado pela maior geração em usinas hidrelétricas. Além disso, os preços de alguns alimentos e de produtos industriais mostraram recuo, favorecidos pela valorização cambial nos últimos meses.

Apesar desse alívio, a inflação acumulada em 12 meses permanece em 5,13%, ainda acima da meta oficial de 3%, que admite até 4,5% de tolerância. Mais preocupante é o comportamento dos serviços, cujos preços seguem crescendo em torno de 6% ao ano, reflexo de um mercado de trabalho aquecido e de uma demanda doméstica que resiste à desaceleração.

Diante desse cenário, o Comitê de Política Monetária (Copom) optou por manter a taxa Selic em 15%, adotando uma postura cautelosa. Embora alguns agentes do mercado esperassem cortes já no segundo semestre deste ano, a expectativa agora é de que os ajustes ocorram apenas em 2026.

A grande questão que se coloca é se a deflação de agosto sinaliza uma mudança de tendência ou se trata apenas de um episódio passageiro. Tudo indica que estamos diante de um fenômeno pontual, cujo impacto maior foi a redução temporária na conta de luz. Ainda assim, o movimento oferece um certo alívio imediato ao bolso do consumidor e pode ajudar a ancorar expectativas de inflação mais baixa.

No entanto, o desafio das autoridades permanece: reduzir a inflação de forma sustentável, sem sufocar a atividade econômica e o mercado de trabalho. A deflação de agosto, portanto, mais do que um prenúncio de estagnação, deve ser vista como uma pausa momentânea no processo inflacionário, um sinal positivo, mas que exige cautela, responsabilidade fiscal e persistência na condução da política monetária.