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Dependência de IA altera processo de tomada de decisão dos brasileiros, aponta estudo

Pesquisa revela avanço da terceirização cognitiva e seus impactos sobre comportamento, trabalho e qualidade do debate público no país.

10 de dezembro de 2025 por LIDE

opened-ai-chat-laptopSegundo o estudo, movimento indica a substituição de processos de pensamento antes considerados intransferíveis. (Foto: Divulgação)

A crescente dependência de tecnologias digitais tem remodelado comportamentos no Brasil. Segundo pesquisa da consultoria estratégica Página 3, 63% dos brasileiros já recorreram à inteligência artificial para escrever até mensagens pessoais, enquanto quase metade prefere consultar modelos de IA em vez de pessoas antes de tomar decisões. O movimento, segundo o estudo, indica a substituição de processos de pensamento antes considerados intransferíveis.

O levantamento mostra que 48% dos entrevistados percebem uma homogeneização nos modos de agir e opinar, ao mesmo tempo em que 72% expressam desejo de maior autenticidade. Essa tensão se intensifica em um ambiente guiado por excesso de estímulos, lógica algorítmica e repetição de conteúdos, fatores que influenciam a construção da identidade individual.

O relatório “Mais do Mesmo” analisa como essa dinâmica reduz a sensibilidade, o pensamento crítico e a curiosidade. “Quando tudo aquilo com que entramos em contato se torna uma espiral de repetições disfarçadas de novidade, enfraquecemos a nossa personalidade, nossos critérios e o senso de realidade”, afirma Sabrina Abud, cofundadora da consultoria e diretora do estudo.

Os efeitos também se manifestam nas relações sociais e no ambiente institucional. Com repertório reduzido e reflexão terceirizada, o debate público perde diversidade e consistência. Escolas, empresas e culturas corporativas tendem a reforçar o alinhamento do pensamento e desestimular divergências, criando terreno para consensos artificiais.

“Já estamos assistindo pessoas que terceirizam partes inteiras do processo de pensar. Com a entrada dos agentes de IA em nossas vidas, esse cenário tende a piorar, já que a delegação da ação e do pensamento será muito maior”, observa a cofundadora Georgia Reinés.

O estudo aponta ainda a percepção de que a autenticidade diminuiu: 63% acreditam que as pessoas eram mais diferentes entre si no passado, e 49% dizem já ter recebido mensagens que pareciam ter sido geradas por IA. Para 76%, conversar e se relacionar tornou-se tarefa mais difícil.

Em relação ao futuro do trabalho, os entrevistados indicam quatro perfis como essenciais: profissionais capazes de analisar criticamente informações produzidas por IA (60%), interpretar antes de agir (49%), criar de forma única (41%) e elaborar prompts eficientes (39%).

A consultoria propõe caminhos para fortalecer autonomia intelectual, como ampliar repertório cultural, retomar conversas longas e exercitar práticas de escrita e fala como instrumentos de organização do pensamento. “Ser você mesmo não é ser oposição ao mundo. É conseguir pensar por conta própria”, conclui Abud.