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Hugo Garbe

Taxa Selic alta freia investimentos e consumo, enquanto mercado projeta alívio só no médio prazo

Inflação, política fiscal e cenário externo ditam ritmo dos cortes e o futuro dos negócios no Brasil.

22 de setembro de 2025 - Atualizado em 22 de setembro de 2025 às 14h34 por Hugo Garbe, professor de Ciências Econômicas da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM)

Hugo Garbe
Hugo Garbe, professor de Ciências Econômicas da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM). (Foto: Divulgação)

O Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu manter a taxa Selic em 15% ao ano. A decisão, embora esperada, levanta questões importantes: quando começará o ciclo de cortes? Quais fatores podem acelerar ou adiar essa mudança? E, sobretudo, o que isso significa para consumidores, empresas e investidores?

A leitura dominante no mercado é de que o Banco Central (BC) iniciará a flexibilização monetária apenas em 2026, provavelmente no primeiro trimestre. Essa cautela se explica: ainda há pressões inflacionárias relevantes, e a autoridade monetária prefere observar a consolidação do processo de desinflação antes de reduzir a taxa básica.

Há, contudo, espaço para cortes mais cedo, possivelmente no fim de 2025, se a inflação surpreender para baixo e as expectativas ficarem firmemente ancoradas na meta. O recado do Copom, entretanto, é claro: não há pressa.

No plano doméstico, a evolução da inflação corrente e dos núcleos será determinante. Se o IPCA convergir de forma consistente para a meta (3% ± 1,5 p.p.), abre-se caminho para cortes. Além disso, a política fiscal terá papel central: uma piora nas contas públicas eleva o risco-país e pressiona os juros de longo prazo, limitando a ação do BC.

No cenário internacional, os olhos estão voltados para os Estados Unidos. Caso o Federal Reserve (Fed) inicie seu próprio ciclo de cortes, o Brasil terá mais espaço para reduzir a Selic sem comprometer o diferencial de juros e, consequentemente, a estabilidade do câmbio. Por outro lado, se persistir a postura contracionista do Fed, o Copom ficará mais restrito. A volatilidade das commodities e os choques geopolíticos completam o quadro.

Para o consumidor, juros nesse patamar significam crédito caro: financiamentos imobiliários, empréstimos pessoais e cartão de crédito permanecem pesando no bolso.

Para as empresas, especialmente as de menor porte, o custo de capital elevado limita a capacidade de investir e expandir. Grandes corporações, com acesso ao mercado de capitais, encontram alternativas, mas não estão imunes ao encarecimento do crédito bancário.

Para os investidores, a Selic a 15% mantém a atratividade dos ativos de renda fixa, em especial os pós-fixados atrelados à própria taxa. Ao mesmo tempo, pressiona a bolsa, já que o custo de oportunidade de aplicar em ações aumenta.

Quando a economia sentirá os efeitos de uma queda nos juros?

Mesmo após o início dos cortes, os efeitos sobre a economia não são imediatos. O chamado “lag da política monetária” é estimado entre 6 e 9 meses. Ou seja, quando a Selic começar a cair, o impacto sobre consumo e investimentos só será sentido de maneira mais clara no decorrer do ano seguinte.

O Brasil convive hoje com juros elevados que, embora necessários para controlar a inflação, trazem custos expressivos para famílias e empresas. Ao manter a Selic em 15%, o Banco Central sinaliza prudência: só haverá espaço para cortes quando o processo de desinflação estiver consolidado e o cenário externo oferecer condições favoráveis.

Até lá, consumidores, empresários e investidores terão de conviver com uma realidade de crédito caro e decisões de investimento pautadas pela cautela.