'O Brasil pode se tornar o país do Pix dos imóveis', diz Andréas Blazoudakis, da NetSpace
No evento, lideranças empresariais e jurídicas discutem o impacto da digitalização, da tokenização e da escassez de funding sobre o futuro do mercado imobiliário brasileiro.
Seminário LIDE Real Estate debateu o futuro das transações imobiliárias no Brasil. (Foto: Evandro Macedo/LIDE)
O avanço das tecnologias de tokenização e blockchain abriu o debate sobre o futuro das transações imobiliárias no Brasil. Reunidos em São Paulo para o Seminário LIDE Real Estate, empresários, juristas e representantes de entidades do setor analisaram as novas fronteiras do investimento e os entraves de financiamento que limitam o crescimento do mercado. O encontro, que teve como tema central “Tokenização de imóveis no Brasil: as novas fronteiras para o investimento em real estate”, expôs o retrato de um setor que se vê entre a tradição do registro em papel e a urgência da digitalização definitiva.
Flávio Amary, head do LIDE Real Estate. (Foto: Evandro Macedo/LIDE)
O head do LIDE Real Estate, Flávio Amary, abriu o evento destacando a necessidade de ampliar o debate sobre a modernização do setor.
“A tokenização é um tema complexo, mas inevitável. É o futuro do mercado imobiliário e precisamos compreender como integrá-la à nossa realidade”, disse. A proposta do painel foi compreender até que ponto o mercado imobiliário está preparado para lidar com ativos digitais e quais oportunidades podem surgir nesse processo de transformação.
Andreas Blazoudakis, fundador e CEO da NetSpace. (Foto: Evandro Macedo/LIDE)
Para Andreas Blazoudakis, fundador e CEO da NetSpace, o blockchain representa uma virada de paradigma. Ele comparou o momento atual à chegada da internet. “O blockchain é a internet do patrimônio”, afirmou. Segundo ele, até 2035 a tecnologia deve movimentar trilhões de dólares no mundo, e o Brasil pode liderar a transformação pela experiência com o Pix. “Na terra do Pix, é natural que surja o Pix do imóvel”, disse. Sua fala destacou o potencial de liquidez e rastreabilidade que a tokenização pode trazer, reduzindo a informalidade e atraindo capital para o país.
Na visão jurídica, o tema ainda carece de marcos regulatórios. O advogado Olivar Vitale, presidente da Comissão Especial de Direito Imobiliário da OAB-SP e fundador do Ibradim, defendeu que o token deve ser visto como uma alternativa de funding e não como ameaça ao sistema registral. “A tokenização é uma nova forma de captação, uma oportunidade para o mercado imobiliário se financiar de modo mais ágil e global”, disse. Ele lembrou que a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) ainda estuda como enquadrar os tokens como valores mobiliários e que a regulamentação será determinante para ampliar a escala das operações.
Lohuane Biso, do Instituto de Registro Imobiliário do Brasil (IRIB). (Foto: Evandro Macedo/LIDE)
A registradora Lohuane Biso, do Instituto de Registro Imobiliário do Brasil (IRIB), trouxe um contraponto à tecnolOgia. “Ter um contrato dentro de uma blockchain não significa segurança jurídica”, alertou. Para ela, o Brasil precisa integrar tecnologia e regulação sem criar “sistemas paralelos” ao registro público. Lohuane defendeu o papel das instituições cartorárias como garantidoras da legalidade e lembrou que o Sistema Eletrônico de Registros Públicos (SERP) já avança na digitalização segura das matrículas. “O registro de imóveis é um seguro. Ele é o que permite dormir tranquilo sabendo que o bem é seu”, afirmou.
O presidente do COFES, João Teodoro, reforçou o papel dos corretores na mediação das transações tokenizadas e na prevenção à lavagem de dinheiro. “O token imobiliário não é a propriedade em si, mas um instrumento que pode substituir a poupança como fonte de funding do setor”, declarou. Ele ressaltou que o sistema COFES-CRECI tem estrutura de fiscalização em mais de 5.500 municípios e pode atuar como camada de controle em operações digitais.
Juros e formas de crédito
Fernando Crestana, sócio do BTG Pactual. (Foto: Evandro Macedo/LIDE)
No segundo painel, voltado ao financiamento imobiliário, o foco deslocou-se para os efeitos dos juros altos e a necessidade de novas fontes de crédito. O gestor Rodrigo Abud, do Pátria Investments, apontou que o mercado de capitais vem ganhando espaço como alternativa, com os Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs) representando hoje até 40% das operações de crédito imobiliário. Já o sócio do BTG Pactual, Fernando Crestana, destacou o papel dos fundos imobiliários como agentes de reciclagem de capital. “O fundo imobiliário é uma ponte entre o investidor e o setor real. Ele injeta recursos na economia e sustenta o ciclo de desenvolvimento”, afirmou.
O presidente do Secovi-SP, Rodrigo Luna, sintetizou o ponto de tensão do mercado. “Nos últimos 30 anos, o Brasil teve juros de dois dígitos em 25 deles. A previsibilidade é o que falta para um ciclo sustentável de crédito imobiliário”, disse. Luna defendeu a estabilidade macroeconômica como condição para que novas fontes de financiamento — digitais ou tradicionais — possam amadurecer.
O Seminário LIDE Real Estate contou com o patrocínio do Sistema Cofeci-CRECI, Bueno Netto, Helbor, HBR Realty, SECOVI-SP, Prefeitura de Barueri, Aliança e Alpha Secure. A cobertura teve como mídia partners a Jovem Pan, o LIDE, a Revista LIDE e a TV LIDE. O evento também teve o apoio dos fornecedores oficiais Três Corações, Ambipar, Compactor, Natural One, Prata e TKS, além dos operadores de tecnologia Netglobe, RCE, TCL Semp e The LED.