'O Brasil tem tudo para liderar a economia regenerativa do mundo', afirma Tarcila Ursini
Especialista em sustentabilidade destaca que a COP30 deve marcar a virada da “década da implementação”, com o setor privado no centro das soluções climáticas e o país transformando seus diferenciais naturais em vantagens competitivas globais.
Tarcila Ursini defende que a COP30 deve marcar a virada da “década da implementação”, com o setor privado no centro das soluções climáticas. (Foto: Evandro Macedo/ LIDE)
A COP30 representa uma virada histórica para o Brasil e para o mundo. Ao sediar o maior evento climático do planeta no coração da Amazônia, o país assume não apenas o papel de anfitrião, mas o de protagonista na construção de uma economia verde, inclusiva e regenerativa. Segundo a especialista em sustentabilidade Tarcila Ursini, co-presidente do Conselho do Sistema B Brasil, o momento exige menos discurso e mais ação. “O Brasil tem tudo para liderar a economia regenerativa do mundo. Agora é hora de transformar nossos diferenciais naturais em vantagens competitivas globais”, afirmou em entrevista à série Negócios que Regeneram.
Para Tarcila, o país carrega simbolismo e responsabilidade ao sediar o evento na Amazônia, região que reúne tanto o maior ativo ambiental do planeta quanto desafios sociais urgentes. Ela destaca que esta deve ser a “COP da implementação”, após décadas de negociações diplomáticas.
“Já falamos demais. Agora é hora de fazer. A COP30 precisa ser lembrada como o momento em que a transformação começou de fato — com governos, empresas e sociedade civil atuando juntos”, enfatizou.
A especialista acredita que o setor privado será decisivo nesse processo. “A implementação do Acordo de Paris acontece na economia real. São as empresas que mudam seus modelos de negócio, inovam, investem e criam as soluções para reduzir emissões. Por isso, o papel do setor privado é central — não apenas econômico, mas civilizatório”, explicou. Ela cita como exemplo a mobilização empresarial em torno da Sustainable Business COP, do CEBDS e de movimentos como o Sistema B, que reúnem companhias comprometidas com práticas sustentáveis e transparentes.
Tarcila também defende uma rápida evolução da regulação ambiental brasileira. “Temos um estoque de biodiversidade e um potencial imenso de bioeconomia, mas ainda estamos lentos na regulamentação do mercado de carbono e em políticas que valorizem quem faz a coisa certa. O mundo caminha para uma economia verde, e o Brasil precisa correr com sua regulação e segurança jurídica para atrair capital e investimento”, afirmou.
Ao analisar o agronegócio, Tarcila propõe separar “o joio do trigo”. Segundo ela, o país já é referência em práticas regenerativas, como plantio direto, integração lavoura-pecuária-floresta e uso de bioinsumos.
“O agro brasileiro é solução, não vilão. Precisamos combater o desmatamento criminoso e, ao mesmo tempo, reconhecer e incentivar quem produz de forma sustentável”, disse.
Para ela, a COP30 também será um divisor de águas para a visão global sobre o Brasil. “O país será anfitrião e vitrine. A forma como conduzirmos essa conferência mostrará se somos de fato um protagonista verde. Temos que aproveitar esse momento e deixar como legado uma nova governança climática — mais inclusiva, mais econômica e mais justa”, concluiu.