'Não podemos aceitar mais nenhum desmatamento', alerta Carlos Nobre sobre o papel do Brasil na crise climática
Cientista defende que o país tem condições de liderar o combate à emergência climática global, mas precisa acelerar a transição para modelos regenerativos de produção e cumprir o compromisso de zerar o desmatamento até 2030.
Cientista defende que o país tem condições de liderar o combate à emergência climática global, mas precisa acelerar a transição. (Foto: Divulgação)
O climatologista Carlos Nobre, um dos principais nomes da ciência climática no mundo, foi categórico ao afirmar que o Brasil só poderá se tornar protagonista na agenda ambiental se eliminar totalmente o desmatamento e adotar práticas regenerativas na agricultura e na pecuária. Em entrevista à série Negócios que Regeneram, o pesquisador destacou que “não podemos aceitar mais nenhum desmatamento” e que o setor privado deve assumir responsabilidade direta na transição para uma economia de baixo carbono.
Segundo Nobre, 70% das emissões brasileiras de gases de efeito estufa vêm do uso da terra — sendo 40% decorrentes de desmatamento, especialmente na Amazônia e no Cerrado, e cerca de 30% da agricultura e pecuária.
“Para o Brasil ser líder no combate à emergência climática, precisamos zerar o desmatamento e restaurar parte significativa dos biomas. Isso não é apenas uma questão ambiental, mas de sobrevivência econômica: se a temperatura global subir 2°C, perderemos a maioria dos nossos biomas e o país deixará de ser o quarto maior produtor de alimentos do mundo”, alertou.
O cientista também ressaltou o papel do consumidor brasileiro na aceleração dessa transição. Ele citou exemplos de empresas que já não compram carne de áreas desmatadas após 2012 e defendeu que a sociedade deve pressionar por produtos de origem sustentável. “Quando os brasileiros e brasileiras optam por alimentos com selo verde, livres de desmatamento e oriundos da agropecuária regenerativa, eles induzem o setor privado a mudar mais rapidamente”, explicou.
Nobre destacou que, embora o Brasil tenha avançado na redução do desmatamento e possua uma das matrizes elétricas mais limpas do planeta — com mais de 80% da energia proveniente de fontes renováveis —, ainda há muito a ser feito. Para ele, a COP30, que será sediada no Brasil, precisa ser o ponto de virada para compromissos globais mais ambiciosos. “A crise climática é tão grave que os países deveriam zerar as emissões líquidas até 2040, e não 2050. O mundo não pode esperar mais”, afirmou.
O cientista reforçou que a conferência deve garantir o fortalecimento do financiamento climático global, estimado em 1,3 trilhão de dólares anuais, com recursos destinados não apenas à transição energética, mas também à agricultura regenerativa e à adaptação das populações mais vulneráveis aos eventos extremos. “Mesmo com 1,5°C de aquecimento, os desastres se intensificam. Precisamos preparar bilhões de pessoas para aumentar a resiliência e evitar catástrofes humanitárias”, concluiu.