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Criptomoedas & Câmbio

Alta do IOF impulsiona compra de ‘dólar digital’ no Brasil, que já supera R$ 10 bilhões por mês

Com aumento da alíquota do imposto, brasileiros recorrem às stablecoins para fugir da tributação e gastar no exterior com mais flexibilidade.

06 de novembro de 2025 por LIDE

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Bárbara Espir, country manager da Bitso no Brasil. (Foto: Divulgação)

O volume de negociações com stablecoins atreladas ao dólar, conhecidas como “dólar digital”, ultrapassou R$ 10 bilhões em outubro no mercado brasileiro, segundo levantamento da plataforma Biscoint. Os dados, divulgados pelo InvestNews, mostram que o uso do USDT (Tether), a maior stablecoin do mundo, atingiu um patamar recorde desde o início do monitoramento em 2024.

O crescimento das transações ocorre em meio à alta do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) sobre câmbio, que subiu de 1,1% para 3,5% após decisão do ministro Alexandre de Moraes, do STF. A mudança levou muitos brasileiros a buscar alternativas digitais para realizar pagamentos e remessas internacionais sem a incidência da tarifa.

Em outubro, o volume total movimentado em USDT nas corretoras locais alcançou R$ 10,51 bilhões, valor comparável aos R$ 10,22 bilhões gastos pelos brasileiros no exterior no mesmo mês, segundo dados do Banco Central.

Parte do avanço também reflete o comportamento dos investidores durante a queda recente do bitcoin (BTC), que levou traders a migrar seus saldos para stablecoins em busca de estabilidade.

“O decreto do IOF acabou funcionando como um empurrão para que até os mais conservadores passassem a experimentar stablecoins pela primeira vez”, disse Hector Fardin, CFO da Avenia, emissora da stablecoin brasileira BRLA.

Aplicativos como o DolarApp permitem a conversão direta de reais para USDT ou USDC (as duas principais stablecoins atreladas ao dólar) por meio de PIX, com spread de 0,5% e sem cobrança de IOF. Além disso, os usuários recebem cartões de débito internacionais vinculados à Mastercard, o que possibilita gastos em dólar no exterior sem a incidência da alíquota de 3,5%.

Na prática, o mecanismo funciona como levar “dólar digital no bolso”, segundo o portal. Como esses produtos ainda não são enquadrados como operações de câmbio pela legislação, conseguem operar fora da tributação — algo que o Banco Central já analisa regular.

“Estamos vendo o Brasil entrar em uma nova fase, muito mais madura, no mercado de ativos digitais”, afirmou Bárbara Espir, country manager da Bitso no Brasil. “As empresas estão olhando para as stablecoins como ferramentas para otimizar operações, proteger capital e integrar novas soluções de pagamento.”

A executiva destacou que a adoção corporativa tende a criar “um círculo virtuoso de liquidez, segurança e confiança” que fortalece o ecossistema financeiro digital no país.

Apesar dos benefícios, especialistas alertam para os riscos. “Uma stablecoin como a USDT é, na prática, um recebível de dólares fiduciários, e é essencial que o emissor tenha solvência e transparência”, disse Fardin, citando a Tether, emissora da USDT, que já enfrentou questionamentos sobre a solidez de suas reservas.

Outro ponto de atenção é a irreversibilidade das transações em blockchain: uma transferência para o endereço errado é praticamente impossível de recuperar. Além disso, a facilidade de câmbio instantâneo pode atrair golpistas e operações de lavagem de dinheiro, o que aumenta a pressão por regulação.

Ainda assim, especialistas veem o avanço como positivo. “A tecnologia é benéfica — cabe ao regulador e aos empreendedores construírem caminhos seguros e prósperos para que a população se beneficie plenamente dessa inovação”, concluiu Fardin.